A Interpretação da Obra de Arte
- Armando Ensino de Idiomas
- 4 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
A Interpretação da Obra de Arte
Por meio de obras de arte o artista comunica com os outros seres humanos. A obra de arte pode assim ser considerada uma mensagem. Esta é portadora de sentido e é veiculada sob a forma de linguagem (sonora, visual, verbal).
Ora, o que frequentemente se verifica é que a mensagem artística se manifesta numa linguagem simbólica.
Em termos gerais, um símbolo é uma espécie de signo que tem um poder expressivo que, em parte, depende da imaginação do ser humano. É uma realidade perceptível pelos sentidos e mediante a qual expressamos outra realidade. Eis alguns exemplos:
Realidades simbolizadas Símbolos
1.O amor Uma rosa, o desenho de um coração…
2.A justiça Uma balança…
3.A liberdade Voo do pássaro, grades desfeitas…
4.A paz Pomba branca, mãos dadas…
A comunicação artística utiliza signos linguísticos (literatura), sonoros (música), visuais (artes plásticas, cinema, fotografia) e o que especificamente caracteriza essa comunicação é que tais signos se transformam em plurissignos, isto é, em símbolos. Os símbolos, e sobretudo os símbolos na linguagem artística, são signos polissémicos e plurivalentes1.
A linguagem artística, ao contrário da linguagem quotidiana e da linguagem científica, não é informativa ou explicativa: é plurissignificativa, isto é, rica em significações e conotações. Aqui reside o seu poder sugestivo — será tanto mais intenso quanto maior for a nossa capacidade de interpretação, de associação e de inter-relação simbólica. Neste sentido, a obra de arte é uma obra aberta a diversas leituras que, embora diferentes, não se anulam umas às outras e que, inclusive, podem ser realizadas, em diferentes momentos, por uma mesma pessoa.
A avaliação estética de uma obra de arte exige não só uma análise formal e técnica, mas também uma análise dos conteúdos que tenha em conta o seu carácter simbólico1, isto é, a sua riqueza significativa.
Escolhemos a pintura como manifestação artística na qual a nossa reflexão se vai centrar.
1 Uma vez que a distinção entre signo e símbolo é polémica, entenda-se esta noção de símbolo como meramente metodológica e operatória.
Certas correntes actuais como a hermenêutica e a semiótica salientam que o conteúdo de uma obra de arte é esteticamente tanto mais valioso quanto maior for a sua capacidade de sugerir significações, isto é, de abrir potenciais simbólicos. A obra de arte é tendencialmente aberta e comunicativa. Ora da sua capacidade de comunicação depende em grande parte a sua durabilidade, o seu poder de interpelar, seduzir e cativar não só os contemporâneos como os vindouros. Para além do que uma obra mostra da técnica, do estilo e das concepções formais do artista, importa que ela seja capaz de gerar níveis de comunicação simbólicos.
Muitas obras de arte contêm um grande conjunto de elementos simbólicos, isto é, de objectos que não valem só por si mesmos, mas que representam conceitos, ideias e seres cujo sentido não é imediatamente dado e que compete ao receptor da obra descodificar. É evidente que há obras com uma rede simbólica complexa que a tornam objecto de múltiplas interpretações e outras cuja riqueza simbólica será, por assim dizer, produzida pela própria interpretação, isto é, pela imaginação e entendimento do contemplador. Em termos ideiais, a “leitura” de uma obra pictórica implicaria que estudássemos:
a) A sua dimensão técnico-formal
— Materiais utilizados
— Tratamento de elementos como a cor, o desenho, a luz, a perspectiva
— A composição
b) A sua dimensão simbólica ou sugestiva
c) Elementos exteriores à obra artística
— Conhecimento da história da pintura
— Conhecimento da época em que o artista viveu: das transformações históricas, filosóficas, científicas e técnicas, da mentalidade dominante
— Conhecimento de outras obras do artista e da sua evolução criativa
— Conhecimento da interpretação que o próprio artista obra em geral
— Conhecimento das suas concepções sobre a natureza e a função da obra de arte
— Dados biográficos sobre o artista
É evidente que é de todo impossível cumprir estes diversos requisitos para a compreensão de uma obra de arte no tempo e espaço de que dispomos. Esta metodologia fica simplesmente como proposta de orientação caso interesse ao aluno aprofundar a interpretação de determinado quadro.
Iremos dar relevo à dimensão simbólica de algumas obras pictóricas e apelar à interpretação pessoal do aluno notando desde já que o simbolismo da obra de arte é também dado pela própria interpretação. Há “dicionários de símbolos” que nos ajudam na exploração do conteúdo simbólico de uma obra e há quadros repletos de elementos simbólicos cujo sentido está de certo modo fixado. Isso não impede, contudo, o carácter pessoal da interpretação porque na complexa rede simbólica que nesse caso o quadro constitui diversas relações se podem estabelecer entre os símbolos.

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