
Ressaca
da
Mente
É preciso grande sabedoria só para perceber a extensão da própria ignorância.
Thomas Sowell
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Literaturas do Mundo
Em Breve !
01 Literatura Chinesa
Os monumentos mais antigos da literatura chinesa são os King ou livros
canônicos, que constituem a base do saber chinês. De entre estes livros, que são cinco,os interessantes são o Chu-King (livro da história dos documentos e o Che-King (livro dos cantos) recopilação de cantos amorosos e hinos religiosos.
Etapa primitiva.- nesta época viviram os grandes pensadores como Confucio ou Kun Futzu (551-479 a. C.) cujos discursos estão registrados em Lunyu (colóquios varios) e Lao-Tse (570-490 d C), de quem se conserva um Tao Teh-King (livro do camino).
a obra mais importante que data da dinastía dos Han (202 a. de C.- 220 d. de C.) é o Shih-chi (memórias históricas).
Dinastía Tang (618-906).- Reporta a China de uma época de estabilidade e prosperidade em que se da a etapa com maior esplendor na poesía lírica a quatro grandes escritores: Li Po o Li Tai-pe (701-762), poeta do amor e autor de canções báquicas; Tu Fu (712-770) y de Pe Kiu-i (772-846) em cuja obra se observa um forte protesto contra a guerra e a injustiça social, e Han Yu (768-824) chefe de uma ampla escola de poetas líricos.
Dinastía Song (960-1279).- Época que se caracteriza pela atividade da filosofia, história e erudição. Aqui encontramos ensaios e tratados históricos de Yang-siu (1007-1072) e de Tse-chi T'ung-kiu (espelho universal da arte de governar) de Ssuma Luang (1019-1086) em que aparecem normas para os príncipes. Dinastía Yüan (1260-1368).- Aqui tem especial interesse o teatro que naquela época carecia de decorados, com apenas nove personagens que se distinguem pela maquiagem e as cores de roupa. Dinastía Ming (1368-1644).- a poesia repete os esquemas anteriores e o teatro
adquire grande relevância. A esta época pertenece uma das melhores obras da dramaturgia china. P'i-p'a chi (historia da guitarra de Kao Ming). entretanto, o gênero mais característico é da guitarra de Kao Ming. apresenta diversas temáticas: histórica, sobre correrías
de bandoleros, fantástica e realista de costrumes, como Chin p'ing mei, título que recorre os nomes das três protagonistas femininas.
Dinastía Tsing ou manchú (1644-1912).- neste período o teatro experimenta um certo auge, promovido por distintos dramas amorosos, de grande refinamento. Apesar disso, segue sendo o gênero significativo das obras de grande êxito foram as Liao-chai chih-i (Fantasías extranhas no estudo de Liao), de P'u Sung-ling (1640-1715), coleção de 431 relatos, terminados em 1679, que ainda não se publicaram até muito mais tarde e, por outro lado, el Hung lou meng (Sueño en el pabellón rojo), de Ts'ao Chan (1719-1763), uma novelagrande, enigmática e
sugestiva.
02 Literatura Japonesa
A literatura japonesa desenvolveu-se nos períodos Yamato, Heian, Kamakura-Muromachi, Edo e moderno, denominados assim de acordo com a sede do principal centro administrativo japonês da época.
Período Yamato (de épocas arcaicas até o final do século VIII d.C.)
Ainda que não existisse literatura escrita, foram compostas um número considerável de baladas, orações rituais, mitos e lendas que, posteriormente, foram reunidas por escrito e incluem-se na Kogiki (Relação de questões antigas, 712) e a Nippon ki (Livro de História do Japão antigo, 720), primeiras histórias do Japão que explicam a origem do povo, a formação do Estado e a essência da política nacional. A lírica surgida das primitivas baladas incluídas nestas obras estão compiladas na primeira grande antologia japonesa, a Maniosiu (Antología de inumeráveis folhas), realizada por Otomo no Yakamochi depois de 759 e cujo poeta mais importante é Kakimoto Hitomaro.
Período Heian (final do século VIII até o final do século XII)
3. PERÍODO HEIAN (FINAL DO SÉCULO VIII ATÉ FINAL DO SÉCULO XII)
A Kokin-siu (Antologia de poesia antiga e moderna, 905) foi reunida pelo poeta Ki Tsurayuki que, no prefácio, proporcionou a base para a poética japonesa. Ki Tsurayuki é também conhecido como autor de um nikki, primeiro exemplo de um importante gênero literário japonês: o diário.
Escrito pela japonesa Murasaki Shikibu no século XI, é considerada a obra capital da literatura japonesa e o primeiro romance propriamente dito da história. Nesta cena do capítulo Asagao, o príncipe Genji acaba de regressar de uma frustrante visita ao palácio de sua amante, a princesa da Glória Matutina. Enquanto conversa sobre suas outras amantes com sua esposa favorita, Murasaki, contempla como suas criadas jogam na neve. O romance está repleto de ricos retratos da refinada cultura do Japão do período heian, que se mesclam com agudas visões da fugacidade do mundo.
A literatura do começo do século X aparece em forma de contos de fadas, como O conto do cortador de bambú, ou de poemas-contos, entre eles, Ise monogatari (Contos de Ise, c. 980). As principais obras da literatura de Heian são Genji monogatari (Contos ou História de Genji, c. 1010) de Murasaki Shikibu, primeiro importante romance da literatura mundial, e Makura-no-soshi (O livro travesseiro) de Sei Shonagon.
Período Kamakura-Muromachi (final do século XII até o século XVI)
A primeira de várias antologias imperiais de poesia foi a Shin kokin-siu (Nova coleção de poemas antigos e modernos, 1205) resumida por Fujiwara Teika. A obra em prosa mais famosa do período, os Heike monogatari (Contos do clã Taira, c. 1220), foi escrita por um autor anônimo. Destacam-se A cabana de três metros quadrados (1212) do monge Abutsu, e Ensaio em ócio (1340) de Kenko Yoshida. O tipo de narrativa mais importante desta época foram os "otogizoshi", coleção de relatos de autores desconhecidos.
O desenvolvimento poético fundamental do período posterior ao século XIV foi a criação do renga, versos unidos escritos em estrofes repetidos por três ou mais poetas. Os maiores mestres desta arte, Sogi, Shohaku e Socho, escreveram, juntos, o famoso Minase sangin (Três poetas em Minase) em 1488.
Período Edo (século XVII-1868)
Neste período de paz e riqueza surgiu uma prosa obscena e mundana de um caráter radicalmente diferente ao da literatura do período precedente. A figura mais importante do período foi Ihara Saikaku, cuja prosa em O homem que passou a vida fazendo amor (1682) foi muito imitada. No século XIX foi famoso Jippensha Ikku (c. 1765-1831), autor da obra picaresca Hizakurige (1802-1822).
O haicai, um verso de 17 sílabas que reflete a influência do zen, foi aperfeiçoado neste período. Três poetas destacam-se por seus haikais: o monge mendicante zen Basho, considerado o maior dos poetas japoneses por sua sensibilidade e profundidade; Yosa Buson, cujos haikus expressão sua experiência como pintor, e Kobayashi Issa. A poesia cômica, numa diversidade de formas, influenciou também este período.
Período Moderno (1868 até a atualidade)
Durante o período moderno os escritores japoneses foram influenciados por outras literaturas, principalmente as ocidentais.
No século XIX destacam-se os romances de Kanagaki Robunis, Tokai Sanshi, Tsubuochi Shoyo e Futabei Shimei. Ozaki Koyo, fundador da Kenyusha (Sociedade dos amigos do nanquim), incorporou técnicas ocidentais e influenciou-se em Higuchi Ichiyo.
No século XX surge o naturalismo, cuja figura principal é Shimazaki Toson. Mori Ogai e Natsume Soseki se mantiveram afastados da tradição francesa dominante. Destacam-se também o autor de relatos Akutagawa Ryunosuke, Yasunari Kawabata (Prêmio Nobel em 1968), Junichiro Tanizaki, Yukio Mishima, Abe Kobo e Kenzaburo Oé (Prêmio Nobel em 1994).
Do final do século XIX aos nossos dias existe um forte movimento a favor da poesia ao estilo ocidental. Dentro deste gênero, surgiram excelentes poetas. Entre eles, Masaoka Shiki.
Teatro Japonês
Teatro escrito e interpretado no Japão desde o século VII d.C. Sua evolução deu lugar a uma ampla variedade de gêneros, caracterizados em geral pela profusão de elementos dramáticos, musicais e coreográficos, e regidos até bem pouco tempo por normas bastante rígidas.
As danças do teatro gigaku, introduzido no Japão no ano 612 d.C. a partir da China, eram aparentemente de caráter cômico. No século VIII foram substituídas pelo bugaku, espetáculo importado da China, cujas danças apresentavam situações simples, mas que adquiriram um caráter ritual.
O sangaku, espetáculo de tipo acrobático (funambulismo, malabarismo e engoliçar de espadas) tornou-se popular no século VIII.
No século XIV surgiu o gênero do Teatro nô, e em fins do século XV o teatro de títeres, jôruri, também chamado bunraku. O grande dramaturgo japonês Chikamatsu Monzaemon foi um dos grandes escritores deste gênero.
A partir do século XVIII, o kabuki se tornou o gênero de teatro tradicional de maior popularidade. Mais próximo de um espetáculo que do teatro em si, seus textos originais têm importância menor que a interpretação, a música, a dança e as cores brilhantes do cenário.
Atualmente os dramaturgos vêm abordando o conflito entre a sociedade moderna e a tradicional. Yukio Mishima obteve grande êxito com Cinco peças modernas do teatro nô (1956), em que apresentou uma versão modernizada de temas tradicionais. O grou do crepúsculo (1949), de Kinoshita Jungi, também tem por base antigos contos populares.
03 Literatura Indiana
A tradição literária indiana é principalmente poética e essencialmente oral. Seus autores são, freqüentemente, desconhecidos. Por esta razão, torna-se difícil estabelecer a história da literatura indiana.
Grande parte da literatura tradicional inspira-se na tradição sânscrita, como também nos textos budistas e jainistas escritos em pali e outras línguas prácritas (dialetos medievais do sânscrito). Isto é válido tanto para a literatura dravídica, como para a literatura escrita nas línguas indo-européias do norte. A influência das culturas islâmica e persa é maior na literatura escrita em urdu, embora em outras literaturas também se possa observar tendências islâmicas.
Entre os séculos II e V foram escritos grandes romances em verso, também chamados epopéias: Cilappatikaram (O bracelete de ouro) de Ilanko Atikal e em seguida Manimekalai (O cinturão de pedras preciosas), uma obra budista escrita por Cattanar.
Até 1500 a maior parte da produção literária indiana era formada por traduções de histórias extraídas das epopéias em sânscrito, os puranas. Muitas das versões do Ramayana - O Mahabharata e Bhagavata-Purana - datam deste período.
A literatura medieval aborda também outros temas, como os Caryapadas, versos tântricos do século XII (ver Tantra) que relatam o ensino e a proeza do fundador da seita mahanubhava. As primeiras obras em língua kannada (a partir do século X) e em língua gujarati (a partir do século XIII) são romances jainistas.
Outros exemplos literários distanciados destas tendências sectárias são os relatos heróicos e de cavalaria em língua rajasthani, como o poema épico do século XII Prithviraja-râsau, de Chand Bardâi de Lahore.
Posteriormente, desenvolveram-se outras literaturas religiosas associadas a filosofias e seitas regionais: os textos tântricos que mais tarde deram origem a gêneros como o mangala-kavya (poesia de um acontecimento ressagiado) de Bengala. Esta poesia era dirigida a divinidades como Manasa (a deusa serpente), forma local da principal divindade feminina chamada Devi.
A principal influência para a literatura indiana posterior foi o culto a Krishna e Rama escritos nas línguas nacionais. A história de Krishna desenvolveu-se em sânscrito a partir do Mahabharata e através do Bhagavata-Purana até o poema composto no século XII por Jaydev, Gitagovinda (O canto do vaqueiro). Em torno de 1400, surge uma série de poemas de amor, escritos pelo poeta Viyapati, que influenciou de maneira decisiva o culto a Radha-Krishna praticado em Bengala, além de toda a literatura erótico-religiosa associada a ela.
A tradição do bhakti encontra-se na obra dos alvars tamiles místicos que, entre os séculos VII e X, escreveram hinos em louvor a Visnú. Estes hinos manifestam-se, especialmente, nas obras escritas em avadhi (hindi oriental) de Tulsi Das, cujo Ramcaritmanas (Lago dos atos de Rama 1574-1577) transformaram na versão canónica do Ramayana. Os primerios gurús, ou fundadores da religião sij, particularmente Nanak e Arjuna, escreveram hinos bhakti que formam parte do Adi Granth (Livro primeiro ou Livro original), livro sagrado dos sijs, compilado em 1604 por Arjuna.
Durante o século XVI a tradição bhakti dirigiu-se a outras formas de divinidade. Assim, por exemplo, a princesa Rajasthani e o poeta Mira Bai escreveram seus versos para louvar a Krishna, igual ao poeta gujarati Narsimh Mehta.
Em urdu, uma língua nova, foi escrita a poesia lírica de Wali. Os ghazals de Mir y Ghalib pode ser considerado o auge da poesia lírica em urdu.
Destacados poetas como Ghalib viveram e trabalharam durante o período de dominação britânica, tendo provocado uma autêntica revolução literária como resultado do contato com o pensamento ocidental. Em meados do século XIX, surgiu uma tradição literária em prosa que absorveu todos os gêneros poéticos tradicionais, exceto o dos poetas urdus.
Nos últimos 150 anos, a literatura indiana foi registrada nas principais quinze línguas do país, incluindo o inglês e o bengalí, esta última oferecendo uma das literaturas mais ricas da India. Um de seus principais representantes é Rabindranath Tagore, o primeiro escritor indiano a receber o prêmio Nobel de Literatura (1913).
Na poesia, destaca-se o líder e filósofo islâmico sir Muhammad Iqbal, escrita originalmente em urdu e persa. A autobiografia de Mohandas K. Gandhi, Minhas experiências com a verdade, escrita originalmente em gujarati entre 1927 e 1929 é, hoje, considerada um clássico.
Entre os escritores de língua inglesa cabe citar Mulk Raj Anand, autor de romances de protesto social e R.K. Narayan, que escreveu romances e relatos sobre a vida rural. Entre os escritores mais jovens da Índia moderna destacam-se Anita Desai e Ved Mehta.
04 Literatura Árabe
literatura dos povos de língua árabe e um dos principais veículos da civilização islâmica. A literatura árabe clássica surgiu de reflexões religiosas e eruditas.
Época medieval
O exemplo de maior destaque da literatura árabe é o Alcorão, livro que os muçulmanos julgam revelado por Deus a seu profeta, Maomé, no século VII, e que é reverenciado em todo mundo.
Conservam-se centenas de odes e poemas compostos um século antes da época do profeta. Entre os autores mais destacados encontram-se al-Asha, Amr ibn-Kultum e Imru-al-Qays. O Hamasa de AbuTammam, el Mufaddaliyat, resumido por al-Mufaddal, e el Kitab al-Agani são famosos recopiladores da poesia pré-islâmica.
A poesia continuou prosperando sob da dinastia omíada (661-750) com poetas como al-Farazdaq e Jarir. O poeta do século X al-Mutanabbi é considerado como o último dos grandes poetas árabes.
As obras em prosa mais antigas que sobreviveram, com o pré-islâmico Aiyam al-Arab, são histórias que comemoram guerras tribais. Ibn-Ishaq escreveu uma biografia do Profeta.
Graças às academias, o pensamento filosófico islâmico estimulou-se através do estudo dos antigos filósofos gregos, nos séculos XII e XIII, o sufismo islâmico expressou-se através da poesia de Ibn al-Faridand Ibn al-Arabí e nos Escritos dos Irmãos da pureza. Os grandes filósofos medievais influenciaram no desenvolvimento da escolástica. Os mais destacados foram Averroés (Ibn Rusd), Avicena (Ibn Sina) e Al Ghazali.
A literatura popular, constituída por narrações dos contadores de histórias, formam uma tradição oral ainda viva nesta parte do mundo. Os heróis da Antigüidade e o famoso califa do século VIII Harun al-Rachid se converteram em protagonistas de contos como os de As Mil e uma noites. Os famosos Maqamat (Saraus) do poeta al-Hamadani e as Maqamat do escritor al-Hariri foram criadas tanto para instruir como para divertir.
Época moderna
Um dos escritores mais aplaudidos da atualidade é o romancista, autor teatral e roteirista Naguib Mahfouz, prêmio Nobel em 1988. O romance também é representado por M. Hussain Heikal; a poesia por Shauqi e por A. Z. Abushady; os contos por Mahmud Taimur, e o ensaio literário e filosófico por Taha Hussein. Tawfiq al-Hakim e Salama Musa, entre outros, optaram por uma literatura mais ocidentalizada. As poesias do Profeta, de Kahlil Gibran, são lidas em todo mundo.
Literatura Árabe Andaluza
Com a introdução da poesia árabe na nascente cultura árabe-andaluza, prosperaram eruditos e recopiladores como Ibn Abd Rabbini (860-940), Abú al-Qali (901-967), Ibn Bassan de Santarén (?-1147) e Said al-Magrabi. Autores autônomos importantes foram Yahya al-Hakam al-Bakrí (?-864) e Abd al-Malik (796-852), que foi o primeiro historiador andaluz.
Abd al-Rahmán III rodeou-se de poetas e eruditos para conseguir uma consciência nacional. Assim surgiram as escolas poéticas sevilhana — inclinada para a poesia amorosa e lírica — e cordobesa, mais intelectual e filosófica. Durante o reinado de Al Hakam destacou-se o grande poeta Ibn Hani de Elvira (?-972) e apareceram obras como o Livro dos hortos, uma antologia de poetas árabe-andaluzes.
Após os reinos de Taifas as letras árabe-andaluzas alcançaram um grande desenvolvimento. Em Sevilla sobressaiu-se al-Mutadid e, em Córdoba, Ibn Hazm (944-1064), autor de O colar da pomba.
As grandes figuras nas composições líricas da dinastia almorávida foram ibn Quzmán (c. 1078-1160), ibn Hafaga de Alcira (?-1134) e ibn al-Zaqqah.
Com os almorávidas desenvolveu-se uma literatura filosófica nas quais se destacaram o já mencionado Averroés e ibn Arabi, a figura mais representativa do sufismo árabe-espanhol.
05 Literatura Hebraica
Determinar a forma poética na literatura hebraica não é uma tarefa simples. Ao contrário da poesia da língua portuguesa, caracterizada pelas rimas, separação em versos, pontuação própria e linguagem metafórica, a poesia hebraica não tem pontuação, métrica ou ritmo que a distinga da prosa.
Ainda hoje há muita pesquisa em torno das características literárias da poesia hebraica, portanto podemos esperar novidades sobre os métodos de interpretação deste gênero literário que ocupa grande parte das páginas da Bíblia.
Livros como Salmos, Provérbios, Cântico dos cânticos e Lamentações de Jeremias são completamente poéticos quanto à sua forma literária. Grande parte de Jó e Eclesiastes são poéticos. Gênesis, Êxodo, Números, Deuteronômio, Juízes e Samuel contêm muitos trechos poéticos, principalmente os cânticos de vitórias sobre os inimigos dos israelitas.
Alguns livros proféticos, apesar do seu conteúdo exortativo, são produzidos, quanto à forma, de maneira poética. À exceção do cabeçalho e título, Obadias, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias estão estruturados desta forma. Apenas os livros de Rute, Esdras, Neemias, Ester, Ageu e Malaquias não contém nenhum trecho poético.
Apesar dos livros de sabedoria estarem na forma poética, eles são classificados de forma independente, pois os antigo hebreus consideravam sabedoria como observações cotidianas que formavam um conjunto de boas práticas para a vida.
A literatura sapiencial buscava, por meio de ditados curtos, regras da felicidade e bem-estar pessoal, além da especulação em torno da existência humana e seus problemas.
Classificamos os livros de Provérbios e Cântico dos Cânticos no primeiro grupo e os livros de Jó e Eclesiastes no segundo grupo. Alguns Salmos (1, 37, 49, 112) podem ser considerados como sabedoria especulativa e educacional bem como trechos de livros proféticos tais como: Is. 40:12-17; 21-26; Am. 3:10; 5:4,6,14.
Poesia e sabedoria no Antigo Oriente Próximo
Os hebreus herdaram dos povos vizinhos uma rica tradição na literatura de sabedoria e poética. Os escritos poéticos dos povos mesopotâmicos e egípcio são muito mais antigos do que os hebraicos. A literatura poética egípcia aparece por volta de 3200 a.C. e a Mesopotâmia possui registros sapienciais muito antes da época de Abraão. A poesia e literatura sapiencial hebraica tem início por volta dos séculos XIII ou XII a.C.
A influência da literatura mesopotâmica e egípcia nos escritos poéticos e sapienciais hebraicos é reconhecida por eruditos de todas as vertentes teológicas. O quadro abaixo demonstra as semelhanças entre o hino do Sol de Aquenaton e o Salmo 104:
Hino de AquenatonSalmo 104:25-26
Os navios rumam para o norte e também para o sul,Pois todos os caminhos se abrem com tua manifestação.Portanto, os peixes do rio fogem diante de tua face,Teus raios estão no meio do grande mar verde.Eis o mar, imenso e vasto e nele vivem inúmeras criaturas, seres vivos, pequenos e grandes.Nele passam os navios, e também o Leviatã, que formaste para com ele brincar.
HILL, WALTON. Panorama do Antigo Testamento. p. 337.
Outras semelhanças se observam na literatura suméria antiga (1900 – 1600 a.C.) em seus hinos e orações poéticas:
Por ignorância comi o que era proibido por meu deus,
Por ignorância pisei o que era protegido por minha deusa.
Mesmo as narrativas de fatos mais antigos, como a Criação e o Dilúvio, tem seus pares na literatura babilônica tal qual o Enuma Elish e o épico Gilgamés respectivamente.
Ademais, a literatura poética cananéia, anterior à hebraica, possuia cabeçalho, subtítulo e também anotações musicais. Portanto conclui-se que a poesia hebraica também herdou elementos cananeus em sua estrutura literária.
Inclusive podemos perceber nos textos hebraicos elogios à tradição poética do Antigo Oriente Próximo:
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Egípcios – Êx. 7:22; 1 Rs. 4:30
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Edomitas e árabes – Jr. 49:7; Ob. 8
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Babilônios – Is. 47:10; Dn. 1:4
Percebemos na literatura sapiencial do Antigo Oriente Próximo um grande interesse em temas existenciais, tais como:
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Sentido da vida
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Mistério da vida e morte
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Realidade do sofrimento, dor, injustiça e mal
Estes interesses em comum levaram ao intercâmbio das estruturas literárias entre os povos que viviam nessa região. Porém, contrariamente aos demais povos que adoravam outros deuses a literatura de sabedoria hebraica incluia os seguintes elementos em seus textos:
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Negação de outros deuses e reconhecimento apenas de Javé (Pv. 22:17-19)
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Negação do materialismo (a matéria era criação divina)
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Negação do panteísmo (pois Javé estava acima da Criação)
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Negação do dualismo (a criação de Deus era boa no início)
Estrutura literária da poesia hebraica
1. Estrutura de pensamento:
Paralelismo de palavras1. Sinônimos:Salmos 24:2 – pois foi ele quem fundiu-a sobre os marese firmou-a sobre as águas.2. Opostos:Salmos 37:16 – Melhor é o pouco do justodo que a riqueza de muitos ímpios.
Paralelismo de sequência lógica1. Causa e efeito:Salmos 37:4 – Deleite-se no Senhore ele atenderá os desejos do seu coração.2. Explicação:Salmos 5:10b – Expulsa-os por causa dos seus muitos crimespois se rebelaram contra ti.
2. Sonoridade da poesia hebriaca
AcrósticoAs letras iniciais de cada verso começam com cada uma das letras do alfabeto hebraico. O Antigo Testamento contém treze poemas acrósticos:
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Salmos 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119, 145
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Provérbios 31:10-31
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Lamentações 1 a 4
Este método servia de instrumento de fácil memorização na antiguidade.Uniformidade sonoraA poesia se utiliza de palavras com sons semelhantes para expressar uma idéia completa. A tradução não consegue transpor este obstáculo literárioTransliteração: sha‘lû shelôm yerûshalayimTradução: Orem pela paz de JerusalémJogo de palavras (trocadilhos)Os escritores bíblicos se aproveitam de palavras com som parecido, mas sentidos diferentes e até opostos.Amós viu um cesto de frutas (qayits) e anunciou o fim (qets) da nação de Israel. Am. 8:2Jacó previu que Judá (yehûdâ) seria louvado (yôdukâ). Gn. 49:8Isaías concluiu de forma magistral a “canção da vinha” (5:7b)Ele esperava justiça [mishpat]Mas houve derramamento de sangue [mispah]
Esperava retidão [tsedaqâ]
Mas ouviu gritos de aflição [tse`aqâ]OnomatopéiaSão palavras que imitam os sons e ruídos naturais. A poesia hebriaca usou este recurso literário em Salmos 68:8 para registrar o som do “trovão” (ra’am) e o galopar dos cavalos em Juízes 5:22 (dahaarot dahaarot)
A concepção de sabedoria dos hebreus
A sabedoria hebraica, e do oriente em geral, vem da observação da vida e a necessidade de lidar com seus diversos problemas e situações humanas.
A idéia é que a experiência, trazida pelos muitos anos vividos, pode servir de guia para as gerações seguintes. Por isso, grande parte da literatura hebraica é produzida sob a forma de instruções práticas.
Porém, a sabedoria hebraica diferenciava-se das demais por partir do princípio que a sabedoria provém de Deus (Jó 12:13; Pv. 2:5-6; Is. 31:1-2). Esta sabedoria manifestava-se de duas formas na vida dos hebreus:
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na vida emocional e espiritual – representada pela poesia no Antigo Testamento
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na vida corporal e prática – representada pela sabedoria no Antigo Testamento
O termo sabedoria também é empregado no Antigo Testamento para habilidades manuais e intelectuais diversas:
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Bezalel e Oliabe receberam sabedoria artística para fazerem os utensílios do tabernáculo (Ex. 31:1-11)
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O trabalho arquitetônico de Salomão também é chamado de sabedoria (1 Rs. 5:9-18)
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O trabalho manual de artesãos também são classificados de sabedoria (1 Rs. 7:14)
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O lado filosófico e intelectual, também como sinônimo de “capacidade mental superior” (1 Rs. 4:29-34)
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A forma neutra do termo sabedoria na conspiração de Jonadabe e Absalão (2 Sm. 13)
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Como sinônimo de experiência e bom senso (Jó 32:7; Pv. 1:7)
Forma literária
O sábio era um personagem importante no período da monarquia em Israel. Junto com o profeta e o sacerdote compunha a fonte de orientação dos reis (Jr. 18:18; Ez. 7:26) e faziam parte da corte real (2 Sm. 8:16-18; 20:23-26; 1 Rs. 4:1-6).
Há dois tipos básicos de sabedoria do ponto de vista literário no Antigo Testamento:
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Sabedoria didática – o livro de Provérbios é o melhor exemplo, pois representa instruções práticas.
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Sabedoria filosófica – representada pelo livro de Eclesiastes e em certa medida pelo livro de Jó, pois propõe críticas e reflexões interrogativas e por vezes pessimista.
Quanto ao tipo de discurso podem ter as seguintes variações:
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Parábola – um discurso preventivo – Pv. 6:20-35
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Preceito – regras e valores com princípios religiosos e éticos – Pv. 3:27
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Enigma – pergunta que exige raciocínio e discernimento – Jz. 14:14
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Fábula – breve conto com personagens da natureza que contém uma verdade moral – Jz. 9:7-20
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Provérbio numérico – apresenta progressão numérica com clímax – Pv. 6:16-19; 30:18-31
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Pergunta retórica – uma pergunta que não necessariamente exige uma resposta – Pv. 5:16; 8:1
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Alegoria – a personificação da sabedoria, com existência própria – Pv. 8 e 9; Ec. 12:1-8
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Sátira – uso do sarcasmo para atacar algum comportamento humano – Pv. 11:22
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Ironia – dizer o contrário do realmente significa para enfatizar uma verdade – Ec. 5:13-17
Conteúdo teológico da sabedoria
Teodicéia
Os livros de sabedoria enfatizam muitos aspectos corriqueiros do ser humano, porém Eclesiastes e Jó focalizam principamente a teocdicéia, que é o problema do mal no mundo e a ação de Deus diante deste. Alguns temas são:
O sofrimento, pobreza e injustiça social – Jó 21:7-26
A prosperidade dos ímpios – Ec. 8:14-15; 9:11-12
A realidade do mal e da morte – Ec. 9:1-6
A vida após a morte – Ec. 3:16-22
O propósito desta vida – Ec. 4:1-3
Justiça retributiva
A justiça retributiva, isto é, recompensas ou castigos divinos de acordo com a obediência ou desobediência do ser humano, é um tema comum nos livros poéticos e de sabedoria no Antigo Testamento.
São baseados em Deuteronômio 28 e fazem parte do tratado da Aliança de javé com o povo hebreu. Este tema será estudado oportunamente nos livros poéticos e de sabedoria do Antigo Testamento (Jó – Salmos – Provérbios – Eclesiastes).
Didática
A instrução didática contida nos livros de sabedoria são baseadas na ética da Aliança (Lei, Torá) firmada entre Javé e o povo hebreu. Portanto, principalmente no livro de Provérbios os assuntos tratados abrangem o conteúdo da Lei, tais como: relacionamentos familiares (23:22-25), retribuição e disciplina (3:12; 28:10), amizade (17:17); controle da língua (26:18-28), casamento e adultério (5:1-23), pobres e necessitados (14:21-31), o sábio e o insensato (18:1-16), o diligente e o preguiçoso (26:13-16), embriaguez (23:29-35), vida e morte (13:14), ira (29:22), soberania (20:28), etiqueta (25:2-7), dívidas (11:15), sabedoria (1:7) e o temor do Senhor (2:5-6)
06 Literatura Grega
DEMAIS EM BREVE
07
O Diabo em Amarelo
08
Briga dos Amantes
09
Harmonia
10
O Filho do Sargento
11
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